O objetivo da visita ao Brasil foi alertar autoridades, empresas farmacêuticas e produtores do setor agrícola-pecuário sobre os riscos associados ao aparecimento, à propagação e à contenção da resistência aos medicamentos, além de conhecer o que é feito no país em termos de pesquisa e de políticas públicas para enfrentar o problema. Bio-Manguinhos também segue na trilha da busca por novos alvos. O pesquisador do Laboratório de Tecnologia Recombinante (Later) e professor Jose Procopio Moreno Senna, que conduz duas linhas de pesquisa relacionada a biofármacos no Instituto, representou o Brasil no encontro que aconteceu em outubro, nos Estados Unidos, agregando representantes da indústria, instituições de pesquisa, órgãos de fomento e especialistas. “Em um contexto de escassez das fontes de descoberta de novas substâncias e aumento da resistência aos antibióticos, terapias alternativas precisam ser desenvolvidas. Me orgulha muito representar a Fiocruz e ver como a unidade é reconhecida internacionalmente por seu trabalho em prol da saúde pública”, declara.
Senna lidera duas linhas de pesquisas com anticorpos monoclonais em Bio-Manguinhos, uma focada em estafilococos multirresistentes e outra sobre Acinetobacter baumannii, duas das principais causas de infecções no ambiente hospitalar. “Na mesa redonda, todos concordaram que um dos passos para driblar a inexistência de um produto para combate a estas bactérias super-resistentes seria considerar tais medicamentos drogas órfãs, o que poderia acelerar as etapas das pesquisas e obter resultados mais eficazes”, detalhou.
O microbiologista afirma que as dificuldades nos investimentos para novas drogas residem nos altos custos, o que tem levado a indústria farmacêutica a trabalhar com moléculas já descobertas”, revelou. Outros desafios são as complexidades da escolha do alvo, reprodução em um modelo animal e o desenho dos ensaios clínicos. “Para ter maiores chances de sucesso, o anticorpo monoclonal precisa ter atividade neutralizante, ou seja, ter a capacidade de matar o patógeno sem necessitar do auxílio do sistema imune do paciente, uma vez que em infecções hospitalares, grande parte dos pacientes infectados estão imunodeprimidos”, ressalta.
Membros da equipe do Laboratório de Tecnologia Recombinante (LATER).
A doutoranda do Programa de Biologia Celular e Molecular do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e pesquisadora do Laboratório de Tecnologia Recombinante (Later), Anna Erika Vieira de Araujo, iniciou, em julho de 2013, os estudos sobre a avaliação da proteína recombinante rOmpA de Acinetobacter baumannii como alvo para imunoterapia, realizando as primeiras tentativas de clonagem da proteína.
O tema, que parece complicado à primeira vista, é de grande importância para a saúde pública, já que as infecções causadas por bactérias multirresistentes, como a Acinetobacter baumannii, representam cada vez mais um problema em escala mundial. O patógeno, considerado oportunista, acometendo especialmente pacientes hospitalizados e causa infecções graves, como pneumonias, meningites e septicemias.
Atualmente, a pesquisadora está aprimorando o ensaio em modelos murinos e tentando clonar outras proteínas que se tornem potenciais alvos. “Com melhores resultados, direcionaremos, de forma mais adequada, a resposta imune”, acrescentou.