Nas últimas décadas, o Brasil conseguiu erradicar doenças como a varíola, cujo último caso foi registrado em 1971, e a poliomielite, em 1989. Além disso, entre 2010 e 2014, não foram confirmados casos de rubéola congênita no País. Esse resultado positivo é reflexo da imunização gratuita e em massa promovida desde 1973, quando foi criado o Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde.
O PNI anunciou o cronograma de implementação da vacinação de HPV para meninos na rede pública. O processo, pioneiro na América Latina, foi iniciado a partir deste ano e será ampliado gradualmente até 2020. Aproximadamente 3,6 milhões de jovens serão beneficiados com a vacina.
O esquema será de duas doses, com intervalo de seis meses entre elas, exceto para os que convivem com HIV, que deverão receber três doses, a segunda dois meses após a primeira, e a terceira seis meses após a primeira. Além dos meninos, as adolescentes de 14 anos que não tomaram nenhuma ou apenas uma das doses previstas no esquema adotado pelo PNI poderão se vacinar gratuitamente. De acordo com o Ministério da Saúde, há cerca de 500 mil meninas nessa situação.
A meningite C também sofreu alteração, a vacina será oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) aos adolescentes (meninos e meninas de 12 e 13 anos). Atualmente, a aplicação é restrita a menores de 5 anos. Confira o novo calendário aqui, inclusive para o povo indígena.
Hoje em dia, talvez todos saibam os benefícios das vacinas, mas dúvidas ainda são comuns. Por isso, o pediatra e consultor científico sênior de Bio-Manguinhos, Reinaldo de Menezes Martins, falou um pouco sobre o tema e as mudanças no calendário vacinal de 2017.
BioDigital- Durante esses anos, o MS verificou que somente 50% das meninas tomaram a segunda dose da vacina contra HPV. Que estratégia está sendo estudada para aumentar a cobertura vacinal desse imunizante especificamente? Os especialistas acreditam que vacinar também os meninos convenceria mais os pais a imunizar as meninas?
Reinaldo: É de se esperar que a vacinação de pré-adolescentes de ambos os sexos irá facilitar a adesão às vacinas HPV (contra o papilomavírus). Além disso, essa vacina pode evitar câncer do pênis no homem, e câncer do ânus e da garganta e verrugas genitais em homens e mulheres. Finalmente, a vacinação de ambos os sexos contribuirá para diminuir a circulação do papilomavírus na população, com benefícios indiretos para a prevenção da doença.
BD - Até 2020, a faixa etária masculina para vacina contra HPV será ampliada gradativamente para meninos a partir de nove anos de idade. Até 2020, a faixa etária da vacina meningocócica C será ampliada gradativamente a partir de nove anos de idade. Por que o PNI resolveu vacinar dessa forma?
R: A vacina contra HPV em meninas já começa aos nove meses de idade. Em meninos, a introdução começará pelo grupo de 12 a 13 anos, sendo estendida gradualmente, de maneira decrescente, até chegar aos nove anos de idade. Essa é uma estratégia para maximizar benefícios com os recursos existentes.
BD - A vacina meningocócica C já era aplicada em crianças de menos de um ano. Por que o MS resolveu vacinar também na pré-adolescência?
R: De maneira similar à introdução da vacina HPV em meninos, a vacina meningocócica C começará pelo grupo de 12 a 13 anos, decrescendo anualmente até atingir o grupo de nove anos de idade. Além de proteger os adolescentes contra a meningite C, um grupo que tem maior risco, a vacinação de adolescentes diminuirá a circulação dos meningococos C na população, com benefícios indiretos, isto é, inclusive os grupos etários que não se vacinarem serão beneficiados.
Jornalista: Gabriella Ponte com informações do IFF/Fiocruz