O informe epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira (7) aponta que mais de mil casos suspeitos de febre amarela já foram notificados só este ano. Do total, 195 foram confirmados e 777 permanecem em investigação. A pasta também registrou 69 mortes decorrentes da infecção aguda.
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Atualmente, são 19 Estados na área com recomendação permanente para a vacina. Entretanto, alguns municípios da Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro que estavam fora dessa determinação foram classificados como área com recomendação temporária. Isso porque o vírus pode acabar se espalhando pelo País. Mas será que, com a chegada do carnaval e todas as viagens que os brasileiros costumam fazer, esse processo pode se intensificar e o vírus da febre amarela chegar até mesmo aos centros urbanos?
Atualmente, apenas os mosquitos silvestres Haemagogus e Sabethes
transmitem o vírus da febre amarela no Brasil. Imagem: Shutterstock
De acordo com Helena Sato, diretora técnica na Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, não há esse risco, mas é essencial o controle dos vetores, que são os seres vivos capazes de transmitir o vírus. Atualmente, a doença pode estar presente em macacos, nos mosquitos silvestres Haemagogus e Sabethes e em humanos, mas só os mosquitos podem, de fato, transmitir o vírus.
No caso da doença voltar aos centros urbanos, ela também poderia ser transmitida pelo mosquito Aedes aegypti , o mesmo da dengue, zika e chikungunya. Entretanto, os últimos casos de febre amarela urbana foram registrados em 1942 no Acre.
Como prevenir a propagação
Reinaldo de Menezes Martins, consultor cientifico sênior do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) da Fiocruz, explica que a doença ocorre em ciclos, mas que não tem uma precisão matemática. Segundo o especialista, foram registrados surtos em 1998 e 1999 e, depois, em 2008 e 2009. Sendo assim, não se pode dizer que os novos casos são surpreendentes, avaliou.
“O problema é que as pessoas que deveriam ter sido vacinadas nesse intervalo não foram. E esta foi a causa do novo surto”, concluiu Reinaldo. Ele deu o exemplo de Minas Gerais, onde todo o problema começou. A cobertura vacinal no Estado era inferior a 50%, então mais da metade das pessoas em áreas de risco não estavam vacinadas. “Isto é um problema muito sério.”
Vacina contra o vírus é a forma mais eficaz de se evitar a doença, mas
nem todo mundo precisa ou deve tomar o imunizante. Imagem: Shutterstock
Ministério da Saúde/ Divulgação
Já as pessoas que já moram em áreas de surto e vão viajar para centros urbanos também devem se preocupar para não acabar levando o vírus para outras cidades. “O ideal é que essa pessoa não viajasse, mas, se precisa, também tem que ter recebido a vacina com pelo menos dez dias de antecedência para proteger a população das áreas que não têm risco”, alertou Reinaldo de Menezes Martins.
O especialista também indica o uso de repelentes, que pode ajudar a prevenir, além da febre amarela, a zika, dengue e chikungunya. Já para saber se o município que você mora ou vai viajar está na área de recomendação da vacina, clique aqui.
Quem não pode tomar
A vacina contra febre amarela já está no calendário nacional de vacinação. Ela é oferecida para moradores de áreas de risco a partir dos nove meses de idade – podendo ser antecipada para os seis meses em caso de surto – e tem um reforço aos quatro anos de idade.
Apenas essas duas doses já são suficientes para proteger a pessoa para o resto da vida. No caso de quem toma a primeira após os cinco anos de idade, o reforço é dado depois de um intervalo de dez anos. Mas é preciso atenção: nem todo mundo pode receber o imunizante.
Segundo Dra. Helena Sato, a vacina é feita com vírus vivo atenuado, mais fraco, e por isso pode causar algumas reações adversas como febre, dores pelo corpo e dor de cabeça. O problema é que, em casos raros, a pessoa também pode acabar desenvolvendo a própria febre amarela.
Por conta disso, pessoas imunodeprimidas (idosos, portadores de HIV), que fazem uso de corticoides em doses elevadas (portadores de lúpus, pacientes com artrite reumatoide) e que estão sendo submetidas a transplante de medula ou órgão sólido não devem tomar a vacina. Pessoas com reação alérgica grave após ingestão de ovo também são contraindicadas porque o imunizante é feito em células embrionárias de galinha. Também não há indicação para menores de seis meses e as mães que estiverem amamentando bebês nesta faixa etária.
Para se proteger contra o vírus nestes casos, é essencial o uso de repelente. “Mas não é pra ‘baixar a guarda’. Precisa passar direitinho, repetidas vezes, seguindo a orientação do rótulo ou de um médico - principalmente nos casos das grávidas e crianças mais novas.”
Como acabar com a febre amarela
prevenir contra doenças como a zika e a chikungunya. Imagem: Shutterstock
Reinaldo de Menezes explica que os surtos geralmente duram entre dois a três meses, perdendo mais força com a chegada dos meses mais frios do ano, já que a circulação dos mosquitos diminui. “Além disso, a vacinação está sendo intensificada nos lugares onde estão ocorrendo os casos, diminuindo o número de pessoas que ainda podem contrair o vírus.”
O especialista lembra, entretanto, que as doenças transmitidas por mosquitos são uma grande preocupação hoje em dia. “Ainda tem a zika, dengue e chikungunya. É preciso que se faça um esforço maior ainda do que já foi feito para que os mosquitos sejam controlados.”
A população deve estar sempre atenta à água parada que pode se acumular em plásticos, pneus, tanques descobertos e até vasos de plantas, favorecendo a reprodução desses insetos. Por outro lado, os governos também devem ter uma participação fazendo a limpeza adequada das cidades e removendo o lixo regularmente.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que “tem intensificado as ações de controle vetorial da febre amarela e que não há risco iminente de reurbanização dessa doença no Brasil”.
Fonte: Saúde - iG