Atenção médica
O último caso de febre amarela urbana no Brasil foi registrado em 1942 no Acre. Por causa disso, os profissionais de saúde do país não têm experiência em tratar a doença. "Os médicos não sabem fazer o diagnóstico", reconhece o Dr. Timerman. "Estamos num momento de alerta, portanto qualquer pessoa com quadro febril, dores no corpo, icterícia igual à da dengue, pressão arterial baixa, evidência de sangramento, deve ser internada. A estrutura laboratorial precisa estar armada para fazer o diagnóstico diferencial rápido, não apenas pelo paciente, mas porque isso é fundamental para conter o surto. Temos de preparar as UTIs para receber os casos suspeitos e os pronto-socorristas têm de se treinar. Infelizmente isso não resolve todos os problemas: os convênios não cobrem a sorologia, os laboratórios não sabem onde comprar os reagentes. Sem esquecer que por cada caso diagnosticado, há de 50 a 100 casos nos quais não é feito o diagnóstico", alerta.
A febre amarela tem um espectro clínico muito amplo, podendo apresentar desde infecções assintomáticas e oligossintomáticas até quadros exuberantes. A "pirâmide da febre amarela" (veja no gráfico) mostra que a maioria é de quadros leves a moderados. O diagnóstico das formas leve e moderada é difícil, pois elas podem ser confundidas com outras doenças infecciosas do sistema respiratório, digestivo ou urinário. Formas graves, com quadro clínico clássico ou fulminante, precisam ser diferenciadas de malária, leptospirose, febre maculosa, dengue hemorrágica e casos fulminantes de hepatite.
A forma clássica apresenta um quadro clinico bifásico, separada por um curto período de remissão, com uma primeira fase de início rápido, leve e com evolução espontânea para cura, e uma possível segunda fase que corresponde às formas mais graves.
Sintomas |
Iniciais: febre, calafrios, cefaleia, dores nas costas, dores no corpo em geral, náusea e vômitos, fadiga e fraqueza.
Casos graves: febre alta, icterícia, hemorragia, choque e insuficiência de múltiplos órgãos. Se não tratada rapidamente, pode levar à morte em cerca de uma semana. |
Diagnóstico |
Sorologia igM e IgG, PCR, isolamento viral, estudo de genotipagem, imunofluorescência e imunohistoquímica. |
A confirmação de um caso de febre amarela ocorre de acordo com um protocolo internacional. A sorologia só deve ser feita caso o cenário epidemiológico e o histórico do deslocamento do paciente justifiquem a suspeita de febre amarela.
Veja na tabela abaixo o diagnóstico diferencial de febre amarela e outras doenças infecciosas:
Diagnóstico diferencial
Doença |
Período de incubação |
Quadro clínico |
Icterícia |
Manifestações hemorrágicas |
Laboratório |
TGO / TGP |
Febre amarela |
3 a 6 dias |
Início súbito Febre alta, cefaleia desidratação, dores musculares generalizadas, prostração intensa, calafrios, náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal alta |
Sim, precoce |
Em torno do 3o ou 4o dia, tubo digestivo (hematêmese, melena). Vias aéreas superiores, epistaxe, locais de punção, equimoses, gengivorragias |
Leucopenia, desvio à esquerda, linficitose, eosinopenia, VHS aumenta, mas às custas da bilirrubina direita |
Muito aumentadas (acima de 1.000 UI) |
Dengue, dengue hemorrágica |
3 a 14 dias |
Febre alta, cefaleia, artralgia, mialgia, hipovolemia, dor abdominal, hepatomegalia, choque |
Ausente |
Petéquias, epistaxe, gengivorragia, equimoses |
Prova do laço positiva, plaquetopenia, hemoconcentração, albumina desce |
Discretamente elevadas |
Leptospirose |
4 a 19 dias, média de 10 dias |
Início súbito, Cefaleia, calafrios, febre, dores musculares (panturrilhas, região lombar), anorexia, náuseas, vômitos e prostração |
Sim, tardia em 15% dos casos |
Tardia |
Leucocitose, neutrofilia, desvio à esquerda, eosinopenia, VHS aumentada, mucoproteínas aumentadas, plaquetopenia, ureia aumentada, creatinina aumentada |
Discretamente elevadas (não mais de 500 UI) |
Hepatites virais |
15 a 180 dias, segundo o tipo |
Febre leve ou ausente, anorexia, mal-estar, dor abdominal, náuseas, cefaleias, mialgia generalizada, fadiga |
Presente |
Podem estar presentes, principalmente no trato gastrointestinal nas formas subagudas ou fulminante |
Ureia normal, creatinina normal, ausência de albuminúria, leucopenia, neutropenia, linfocitese, desvio à esquerda |
Muito elevadas. Pode haver inversão da relação FGO.TGP |
Chikungunya |
3 a 12 dias |
Febre alta, artralgia, mialgias intensas, cefaleia, erupção maculopapular, vômitos, púrpura |
Ausente |
Raramente |
Leucopenia, isolamento do vírus nos 5 primeiros dias da doença |
Normais |
Fonte: Manual de Vigilância Epidemiológica Febre Amarela Min. Saúde (2004)