img arboviroses isiO painel “Arboviruses in Brazil: political and technological challenges for the fight against Dengue”, realizado no último dia do 8th International Symposium on Immunobiologicals – ISI (10 de maio), foi moderado pela pesquisadora sênior da Fiocruz Margareth Dalcolmo e reuniu especialistas em abordagens para o enfrentamento da doença. “Agora é a hora de aprender em um momento tão relevante que estamos vivendo no Brasil em relação à dengue, uma situação epidemiológica absolutamente nova”, comentou Dalcolmo. Diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde (MS), Eder Gatti apresentou “Vaccination policy against Dengue”.

“Estamos em um cenário muito problemático. O Brasil é líder mundial em notificação de casos da doença, que se expande pelo mundo avançando inclusive em áreas temperadas, considerando fatores climáticos recentes. Temos anos consecutivos de alta incidência”, relatou. Gatti exibiu dados de casos e mortes apontando que os de 2024 ultrapassam muito os de 2023: “Vivemos neste ano a pior epidemia de dengue da nossa história. Passamos de quatro milhões de casos e dois mil óbitos, além dos dados a investigar. Infelizmente foi um ano muito dramático, o que é importante registrar porque norteia as decisões do Ministério”.

Os números de óbitos estão concentrados em faixas etárias mais idosas. Comparando dados de 2023 e 2024, os casos graves tiveram aumento de 236%; e os óbitos, 204% até o momento, em um cenário inédito em que diferentes sorotipos circulam pelos territórios. A principal solução são vacinas eficazes e seguras, que estão sendo desenvolvidas e já aplicadas, sem eventos adversos graves. “São vacinas promissoras, e aqui no Brasil optamos pela Qdenga, com vários estudos e eficácia comprovada”, afirmou o especialista. O MS garante a reposição de imunizantes, a continuidade e a ampliação da vacinação, enfrentando desafios como a capacidade limitada de fornecimento pelo laboratório produtor.

A estratégia adotada é priorizar faixas etárias recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, considerando taxas de hospitalização e critérios técnicos para seleção de territórios. Somadas a essas medidas, ações de farmacovigilância ativa acompanham a vacinação. Sobre o atendimento à população do Rio Grande do Sul, Gatti informou que, além da imunização já prevista, o Ministério monitora estoques e cria estratégias para fornecimento de insumos e vacinação em abrigos.

Esperanças nacionais
Fernanda Boulos, diretora científica do Instituto Butantan, palestrou sobre “Clinical trials of a Dengue vaccine”, a expectativa quanto à vacina brasileira cujo desenvolvimento está na fase 3, com previsão de encerramento em 2024 e eficácia de 88% para casos graves. O processo de licenciamento foi iniciado em 2012, e o estudo desenvolvido pelo Butantan com 16 centros de pesquisas no Brasil aponta eficácia geral de 79,6%, sem eventos adversos graves. Resultados promissores e proteção para todos os quatro sorotipos de dengue geram entusiasmo entre os especialistas. “Já começamos o processo de submissão. Nossa expectativa é completar no segundo semestre e em 2025 já ter a vacina”, prevê Boulos, que atualmente lidera todas as pesquisas clínicas em andamento na instituição.

Tratando de um método alternativo, “Wolbachia method: a powerful strategy for controlling arboviruses”, foi a palestra do Líder de Relações Institucionais e Governamentais do World Mosquito Program - Brasil, Karlos Diogo Chalegre, que explicou como a bactéria wolbachia, comum na natureza em outros insetos, inibe a transmissão ao ser replicada da mosca e inserida em ovos do mosquito: “Toda fêmea com wolbachia passa à sua prole, bloqueando a replicação do vírus”. O método tem eficácia comprovada, com redução de aproximadamente 70% de arboviroses no país.

O Wolbachia vem sendo usado em outros países e tem perspectiva de resultados em médio e longo prazo. Cada um real investido no método gera um retorno entre R$ 43,45 e R$ 549,13, considerando a redução na sobrecarga do sistema de saúde e outros indicadores. A estratégia, que está sendo adotada pelo Ministério como política pública, sendo expandida pelo país, trouxe esperança e divertiu a plateia com o batismo da mascote do projeto, Wolbito – junção de wolbachia e mosquito. “Temos um trabalho importantíssimo de comunicação para a população, informação para evitar fake news e desinformação nesse período de engajamento comunitário”, relatou Chalegre.

Texto: Maria Carolina Avellar
Imagem: Marcos Afonso e Daniel Barbosa

 

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