Na primeira semana de dezembro, Bio-Manguinhos/Fiocruz, celebrou um marco significativo no desenvolvimento de vacinas com a conclusão do envase do quarto lote da vacina de RNA mensageiro (mRNA) para testes pré-clínicos. Esse lote será enviado para Índia, onde ocorrerão os testes toxicológicos em animais, um passo essencial para garantir a segurança do imunizante.
O desenvolvimento da vacina de mRNA está diretamente relacionado à resposta da Fiocruz à pandemia de COVID-19. Em setembro de 2021, Bio-Manguinhos foi selecionado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para integrar uma iniciativa de democratização do uso da tecnologia de mRNA em países de baixa e média renda. A colaboração visa ampliar a capacidade de desenvolvimento e produção local e promover a equidade na distribuição de vacinas.
Patrícia Neves, Líder Científica do Projeto de Desenvolvimento de Vacinas de mRNA, explica como o projeto evoluiu: "Em 2018, começamos a desenvolver vacinas terapêuticas para o tratamento de tumores. Com a pandemia, conseguimos adaptar rapidamente nossa tecnologia de mRNA para a luta contra a COVID-19. A flexibilidade dessa plataforma foi fundamental para os avanços rápidos."
A versatilidade do mRNA tem sido essencial para o sucesso no desenvolvimento da vacina, permitindo modificações rápidas nas suas sequências genéticas para combater o SARS-CoV-2. Desde os primeiros testes em animais, os resultados positivos indicaram que a vacina gera uma resposta imune eficaz.
Adriana Santana, gestora do Laboratório Piloto de Processamento Final (LABPF) e responsável pelo processo de envase, salienta a importância dessa fase: "O envase é uma etapa decisiva, pois assegura que o produto chegue em condições ideais para os testes, avançando assim em direção à produção em larga escala."
O processo de desenvolvimento para o escalonamento do IFA (ingrediente farmacêutico ativo) RNA e a produção dos lotes de medicamento experimental (lotes clínicos), necessários para os ensaios, estão sob a gestão de Maria do Carmo Gonçalves, líder do Laboratório Piloto de Procariotos e RNA. Ambos os laboratórios fazem parte do Departamento de Desenvolvimento Piloto (DEDPI), que é coordenado pela gerente Elaine Maria de Farias Teles.
Com mais de 20 formulações testadas e 13 ensaios realizados em animais, a vacina está agora na fase final antes dos testes em humanos. O envio do lote para testes toxicológicos representa um passo crucial rumo à obtenção do registro da primeira vacina mRNA totalmente desenvolvida no Brasil, com patentes que protegerão a tecnologia nacional. Esse avanço fortalece o caminho para a implementação de uma plataforma tecnológica que resulte no desenvolvimento de novas vacinas ou produtos com rapidez, ampliando o acesso a saúde e preparando o país para futuras emergências sanitárias.
Além desse relevante marco para o desenvolvimento da plataforma de mRNA, a atuação conjunta dos laboratórios do Departamento de Desenvolvimento Pré-clínico (DEDEP), gerenciado pela Sheila Maria Barbosa de Lima, e os laboratórios do DEDPI, viabilizam o encadeamento do processo de inovação entre o desenvolvimento em bancada que visa à obtenção de lotes para estudo pré-clínico e o desenvolvimento da escala piloto visando à produção de lotes para Estudo Clínico.
O trabalho em colaboração e sinergia fortalece o ecossistema de pesquisa e desenvolvimento do país e da região, possibilitando a execução das etapas fundamentais para o desenvolvimento do processo produtivo que será implementado em escala industrial para o fornecimento do produto.
Jornalista: Marcela Dobarro
Imagem: Bernardo Portella