No último debate do Seminário Anual Científico e Tecnológico, realizado dia 14, o pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Mitermayer Galvão, apresentou estudos realizados nas comunidades no Nordeste, enfatizando sua rede, além de propor ações futuras para que a Fiocruz ajude a melhorar o mercado de vacinas, biofármacos e reativos no Brasil.
No debate Integração das atividades de inovação tecnológica na Fiocruz e no Brasil: desafios, gargalos e perspectivas, Mitermayer apontou os desafios atuais para a ciência, como energia, água, pandemia, transições demográficas e epidemiológicas. Para ele, a solução é estudar mais as doenças circulatórias e infecto-parasitárias para idosos. “A demografia mundial está caminhando para uma população mais idosa”, salientou.
O pesquisador mostrou estudos na região nordestina com relação a doenças como leptospirose, dengue, tuberculose e esquistossomose. “Algumas dessas doenças possuíram casos com óbitos por problemas de diagnóstico. Muitos confundiam dengue com leptospirose. Atualmente, o problema amenizou pois teve a interferência do presidente do Conselho Político e Estratégico de Bio, Akira Homma, para que um teste fosse produzido”, contou Mitermayer.
Mitermayer propõe ações futuras para melhorar a integração tecnológica da Fiocruz
Imagem: Ascom/Bio-Manguinhos
Acontecem muitas epidemias nas fronteiras com o Brasil. O pesquisador acredita que é possível contê-las. “É preciso produzir vacinas suficientes para imunizar os brasileiros, exportar para os países vizinhos e, assim, tentar erradicar essas doenças”, enfatizou. Ele também considera inovação a capacitação de profissionais. “Estamos bem em números de patentes embora tenhamos poucos profissionais na área, mas precisamos melhorar no ranking de inovação. Temos que estimular nossos jovens a se transformarem em pesquisadores”, afirmou.
Concluindo sua apresentação, Mitermayer propõe pesquisas em imunopatogênese das doenças infecciosas, parasitárias, crônicas e degenerativas, capacitação em desenvolvimento tecnológico e estímulo de parcerias das diversas unidades da Fiocruz com outras instituições para vacinas, biofármacos e testes de diagnósticos.
Debatedores também sugerem melhorias
A assessora científica sênior do Conselho Político Estratégico de Bio, Cristina Possas, propôs um novo modelo político e de gestão de Ciência e Tecnologia no país. “Temos um exemplo maravilhoso de modelo, como o National Institutes of Health (NIH), mas, aqui, o sistema é pulverizado e não sustentável e unificado como é nos Estados Unidos. Este é um grave problema estrutural e que atrapalha o desenvolvimento da inovação no Brasil. Isso acarreta em outra dificuldade para os pesquisadores, que é sustentar recursos para os estudos clínicos”, argumentou.
No início de sua fala, o vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio, Marcos Freire, mostrou diversos exemplos de parcerias de Bio para a produção de vacinas. “Trabalhar em rede é muito difícil. Tem muita competição e essas pessoas tem que pensar de forma unificada, olhando para a cadeia de produção, desde a pesquisa clínica até a distribuição do produto. Além de patentear produtos, manter esta patente também é muito trabalhoso e isso exige integração”, opinou.
O coordenador do Programa de Desenvolvimento de Insumos para a Saúde (PDTIS), Wim Degrave, comenta que é comum no país ter soluções low tech e não muito de inovação, mas que, mesmo assim, conseguiu-se alguns avanços, como o teste NAT. “O desenvolvimento de diagnósticos rápidos por Bio-Manguinhos e seus parceiros caminhou muito bem, pois foram pesquisados produtos que eram potencialmente estratégicos e isso não seria possível sem trabalhar em rede. Acho que a Fiocruz faz essa interação muito bem”, elogiou.
Motivar a cultura que existe no CNPq é salutar para Carlos Morel, coordenador da implantação do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) da Fiocruz. “É necessário lutar contra a individualização nas pesquisas, cada um pensa em seu próprio benefício e não na população. Há também uma questão grave que é a espionagem industrial que deve ser combatida de alguma forma pois atrapalha o processo produtivo”, finalizou.
Jornalista: Gabriella Ponte