img polioDistante cerca de 450 quilômetros da capital João Pessoa, Sousa — no Sertão da Paraíba — é um município conhecido por abrigar um dos principais sítios arqueológicos do país, preservando diversas pegadas de dinossauros que marcaram seu solo há mais de 165 milhões de anos. É lá também que se registrou o último caso de poliomielite no Brasil. Esse, há bem menos tempo: em 1989. Nas últimas quatro décadas, pode-se dizer que o país fortaleceu e ampliou suas estratégias de vigilância e prevenção, avançou com a imunização e erradicou a doença. Mas é preciso atenção, pois esse cenário positivo ainda corre o risco de sofrer um retrocesso. E a palavra-chave para que isso não ocorra é bem conhecida: vacinação.

De 2016 para cá, a queda na cobertura vacinal da doença reacendeu o alerta para o risco de um possível retorno do vírus causador da paralisia infantil no Brasil. Um de seus sorotipos selvagens ainda circula em países como Afeganistão e Paquistão — o que mantém a ameaça de um retorno global. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que enquanto houver uma criança infectada, crianças de todos os países correm o risco de contrair a poliomielite. Ainda de acordo com o órgão, se a doença não for erradicada, podem ocorrer até 200 mil novos casos, a cada ano, em uma década.

Para evitar esse revés, é fundamental não descuidar da prevenção. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) segue orientações da OMS e estabelece como meta segura a vacinação de 90 a 95% de crianças menores de 5 anos. Esse índice foi obtido pela última vez em 2015, quando 96,5% desse público foi vacinado. Nos últimos anos, em 2021 (71,3%) e 2022 (77,7%), a queda acentuada na adesão colocou o Brasil no topo da lista de países com maior risco de retorno da pólio selvagem nas Américas, atrás apenas do Haiti, e mobilizou autoridades sanitárias.

Já em 2023, informações do Ministério da Saúde indicam que os números voltaram a subir, após medidas de estímulo e incentivo à vacinação, atingindo um índice de 85% de crianças menores de 1 ano com o primeiro ciclo de imunização. No primeiro semestre de 2024, esse percentual vem se mantendo, com expectativa de crescimento.

A retomada de patamares que garantam a manutenção da erradicação da pólio no país é justamente o que deseja o paraibano Deivson Rodrigues, último brasileiro diagnosticado com a doença. Posto esse que ele não quer perder, afinal, dessa forma o Brasil continuará livre da poliomielite. E para isso, ele tem feito a sua parte: “Eu incentivo os pais a levarem seus filhos à vacinação e evitar que o pior aconteça”, afirma à Radis.

Dos três sorotipos do vírus selvagem da pólio, hoje apenas um está em circulação no mundo. Edson Elias, pesquisador do Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), afirma que os outros dois vírus foram erradicados do mundo graças à vacinação. O mesmo destino é esperado para o tipo 1. Porém, se a adesão vacinal diminui, essa missão fica mais distante de ser concluída com sucesso. Em janeiro de 2019, Radis já chamava atenção para as baixas coberturas vacinais que comprometiam o programa brasileiro de imunizações [Leia reportagem completa em Radis 196]. A situação, porém, se agravou nos anos seguintes, durante a pandemia de covid-19. De lá para cá, uma pergunta ainda desafia a ciência e a saúde pública: O que é preciso fazer para que o Brasil volte a ser uma referência na vacinação da população?

Leia mais na Revista Radis.

Texto: Radis
Imagem: Peter Ilicciev

 

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