Confira depoimentos de profissionais que participaram do evento
Dayvison Amaral, gerente regional de Arcoverde, da Secretaria de Saúde de Pernambuco
“Trabalho na cidade de Arcoverde, no Sertão de Pernambuco, terra muito seca, mas muito viva e resistente. Hoje é um dia marcante e especial. Eu acho que é muito importante as pessoas que estão dentro de espaços de gestão compreenderem a necessidade e a importância da descentralização dos CRIEs. Um espaço para poder discutir com tantos outros atores e outros estados sobre a prematuridade é muito importante. E quando a gente olha para os prematuros, a gente percebe essa imaturidade de todos os órgãos. Temos que valorizar a vacinação, lembrar de que a vacina é um pilar básico para a gente dar um suporte para essa prematuridade. Quero agradecer a Lurdinha, a Fiocruz, a Bio-Manguinhos e a todos os atores envolvidos. É no território que a vacina acontece. Muitas vezes, a gente conhece nomes de presidentes e governadores. Mas, muitas vezes não conhecemos aquela vacinadora e vacinador anônimo que atua no nosso território. Em Arcoverde, tem uma grande população indígena. Então, muitas vezes a gente leva 34 horas para chegar em uma aldeia indígena com aquele frasco que é tão sagrado e precioso. Então, hoje para mim, enquanto gestor, enquanto enfermeiro, é muito importante esse momento de poder estar aqui junto de pessoas tão estratégicas. De poder compartilhar essa experiência e poder levar para o meu território de alguma forma, para Pernambuco, esse aprendizado. Então, nosso trabalho tem começo, meio, mas não tem fim. Eu acredito que a pauta da prematuridade precisa ser mais trabalhada. Precisamos juntar mais atores envolvidos, colocar saúde como um trabalho intersetorial, trazendo a educação, trazendo a assistência social para perto desses pequenos pacientes. Sabemos que essas crianças precisam do nosso olhar de uma forma mais cuidadosa, que precisamos potencializar essas vacinas para nossos guerreiros e guerreiras que estão aí nas incubadoras, esperando esse aconchego, esse nosso carinho. Estamos prontos para mais, o trabalho está só começando”.
Anna Dias, médica pediatra neonatologista, Câmara Técnica de Neonatal
“Falar sobre prematuridade é um tema sensível, mas sempre atual, que nos traz reflexões. Nós, como neonatologistas, somos o primeiro médico, aquele capaz de, efetivamente, alterar o curso daquele ser pequeno, vulnerável, que está à nossa frente. E não só dele, porque envolve também todo o entorno, que é fundamental para o processo do nosso trabalho, que são os familiares. Aquele profissional está ali com todo amor, carinho, dedicação e conhecimento, que precisa estar sempre se aperfeiçoando, sempre estudando. Então, participar de um evento dessa natureza, nessa casa que tem uma formação tão significativa, para todos os que prestam assistência e para toda a população, é uma grande honra. Eu me sinto bastante feliz de estar participando de um evento muito bem organizado, com temas sensíveis a todos nós. Acredito que está sendo um sucesso. A gente vai conseguir sair daqui com grandes ideias para colocar em prática. Eu sou neonatologista no Rio de Janeiro, estou na Câmara Técnica de Neonatal e atuo também na ponta. Acredito que, dentro do município do Rio de Janeiro, a nossa estatística não é diferente da que foi apresentada nacionalmente. Temos essa mesma percentagem de 1,8 ou 1,9% de prematuros pela estatística que recebo das maternidades da região metropolitana, prematuros de até 1,2 kg. Temos essas dificuldades diárias, relacionadas ao trabalho, e problemas orçamentários, de insumos, de assistência. Acredito que estamos com uma carência de profissionais. Acredito que a Sociedade de Pediatria precisa intensificar mais a formação de neonatologistas, porque a cada dia que passa a gente vê menos profissionais que sejam tão especialistas na ponta. Temos bons profissionais da assistência, mas são profissionais já mais maduros, que precisam ser substituídos em um futuro breve. Essa é minha fala de intensificar a valorização do neonatologista. O primeiro médico desse bebê tão pequeno, que cada vez chega para a gente menor, com mais especificidades, olhares mais abrangentes para o seu tratamento, para sua repercussão futura. Sempre encaminhamos o bebê através do CRIE para essas vacinações, mas, às vezes, há hesitação vacinal e os profissionais precisam de cursos de aperfeiçoamento para melhor atender essas crianças. Contra a informação ninguém pode argumentar”.
Ana Lucia Goulart, médica pediatra neonatologista, professora da disciplina de Pediatria Neonatal do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina e coordenadora do Ambulatório de Prematuros
“Eu entrei no ambulatório há mais de 20 anos, onde a gente acompanha crianças desde a alta hospitalar, nos prematuros com idade gestacional menor do que 34 semanas, até os 20 anos de idade, quando eles se tornam adultos. A nossa experiência é maravilhosa, porque nesses 40 anos de história, fomos construindo uma equipe muito qualificada, com 10 categorias profissionais, constituída por pediatra, neonatologista, neurologista, oftalmologista, fonoaudióloga, nutricionista, dentista, neuropsicóloga, psicóloga e assistência social. Então, nós temos uma experiência única e muito exitosa. Nossa situação só chegou a esse ponto a partir de muita luta, sem dúvida nenhuma. Ela foi muito especial e eu entendo que todos os prematuros deveriam ter direito a esse tipo de assistência, por todas as suas peculiaridades e necessidades. Eles correm tantos riscos em decorrência das condições de nascimento, de muitas complicações que eles podem apresentar no início da vida e isso pode ter repercussão para a vida inteira. Todos deveriam ter o direito a ter um serviço de qualidade em todos os municípios ou, pelo menos, ter alguns centros nos quais eles pudessem ter um acesso fácil. Então, essa é a nossa luta. Estamos nesse evento com a possibilidade de interagir com os colegas de área e aumentar a divulgação da causa da prematuridade. É uma alegria enorme poder compartilhar as experiências e divulgar uma causa tão importante, que é um problema de saúde pública mundial e muito pouco abordado. Falar em 12% das crianças é um número impactante e grande parte das pessoas pensam que nasceu prematuro, superou aquela fase, está tudo resolvido e não é assim na prática. Felizmente, essa é a realidade de muitos. Mas, a gente tem aí um percentual expressivo que vai ter questões físicas de crescimento, de doenças crônicas, questões de desenvolvimento psicomotor, questões comportamentais e até mesmo psiquiátricas”.
Texto e imagens: Gabriella Ponte